Obras raras do Museu Nacional também terá publicação disponível para download gratuito na internet
O Museu Nacional lançou semana passada o primeiro catálogo impresso de seu acervo de obras raras. Apesar de aproximadamente 85% dos 20 mil itens do museu ter sido destruído por um incêndio de grandes proporções, em setembro de 2018, o diretor da instituição de cultura, Alexander Kellner, contou à Agência Brasil que as obras raras já estavam fora do museu quando o fogo consumiu o Paço Imperial, na Quinta da Boa Vista.
“Felizmente, graças a uma política que a gente já tinha de retirar o acervo do Palácio de São Cristóvão e alojar em outros locais, nós conseguimos mudar a nossa biblioteca de lugar.”
Obras raras do Museu Nacional
Além disso, em razão do trabalho feito pela equipe de bibliotecárias, que conta com Leandra Pereira à frente, “nós conseguimos brindar a sociedade brasileira com esse catálogo das obras raras, para que todos saibam um pouquinho mais dos tesouros que ficaram preservados em nossa instituição”, explicou Kellner.
Além da versão impressa, o Catálogo de Obras Raras do Museu Nacional também está disponível para download gratuito desde a última quinta-feira (13), quando foi lançado. O catálogo foi organizado pelas pesquisadoras Leandra Pereira de Oliveira, Mariângela Menezes e Vânia de Jesus Alves.
Raridades
Chefe da Biblioteca Central Museu Nacional, Leandra contou à Agência Brasil que o catálogo lista 1.408 obras raras. Entre as preciosidades, ela destacou a Torá (a bíblia hebraica), de 1,3 mil, que pertenceu ao Imperador Pedro II e tem registro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ela citou ainda o livro Historia Naturale, escrito por Plínio (O Velho), de 1481. A obra é chamada de incunábulo, que são as publicações dos primeiros tempos da imprensa no país, e pertenceu à Imperatriz Leopoldina.
Segundo a especialista em livros raros, Ana Virginia Pinheiro, outra obra do catálogo que merece destaque é a Arte de grammatica da lingoa mais usada na Costa do Brasil, de José Anchieta. O exemplar original possui duas folhas preliminares e 59 folhas de texto. Mas vale destacar que apenas oito exemplares são conhecidos no mundo, sendo que dois estão no Brasil e os outros seis em instituições de Portugal, Inglaterra, Espanha e Itália. Ana Virginia conta que a descoberta de um exemplar no Museu Nacional foi uma grande surpresa.
Acervo
Hoje, a biblioteca do Museu Nacional (MN) possui em torno de 506 mil volumes, a maioria dos quais obtidos por meio de permuta institucional. Contudo, em 1876, quando foi criado o periódico Arquivos do Museu Nacional, ficou estipulada a permuta institucional com bibliotecas de museus do mundo todo, revelou Leandra.
“Atualmente, a gente tem parcerias com mais de 140 instituições de 41 países. Ela (a biblioteca) é muito grande. A gente tem 16 mil títulos de periódicos e está entre as quatro maiores bibliotecas da universidade (Federal do Rio de Janeiro – UFRJ).”
Projetos
A chefe da Biblioteca Central do Museu Nacional contou também sobre dois novos projetos em andamento. Um deles é o fac-símile da primeira obra que entrou para o acervo do MN. Trata-se do manuscrito doado pelo Barão Wilhelm Ludwig von Eschwege, um dos membros da comitiva da Imperatriz Leopoldina. O Barão de Eschwege era geólogo e foi pago pela coroa portuguesa para pesquisar o potencial mineral do Brasil.
“Ele entregou esse manuscrito para o Museu Nacional e ele nunca foi publicado, ou seja: se ele se perder, se perdeu. Minha ideia é fazer um fac-símile desse livro.”
Já o segundo projeto consiste em fazer uma edição ampliada e atualizada da história da Biblioteca do Museu Nacional. “A gente tem um livro, que foi publicado em 1966, por Dulce Cunha, comemorando os 100 anos da biblioteca, completados em 1963.”
Os dois projetos serão em formato digital e devem levar de um a quatro anos para estarem concluídos.
Por fim, apesar de a previsão de reabertura do Museu ser em 2026, o diretor do museu Alexander Kellner disse que, em junho de 2024, pretende abrir parte do MN para visitação pública, incluindo a sala dos meteoritos, o hall de entrada e a escadaria coberta por uma claraboia.
*Foto: Reprodução/Flickr (Riotur.Rio)