Na tarde da quinta-feira (20/11), feriado do Dia da Consciência Negra, centenas de militantes, ativistas e apoiadores da luta antirracista se reuniram no centro do Recife para participar da Marcha da Consciência Negra, que ocupou as ruas da área histórica da cidade.
A mobilização aconteceu em um dos principais pontos simbólicos da capital, o Marco Zero, onde os participantes começaram a se concentrar por volta das 14h, dando início a um ato marcado por reivindicações políticas, memoriais e culturais.
A Marcha foi organizada por coletivos, movimentos sociais e entidades do movimento negro, que tradicionalmente realizam a atividade todos os anos como forma de reafirmar as lutas por direitos, combater o racismo estrutural e denunciar a violência direcionada à população negra no Brasil.
Assim como em edições anteriores, o percurso teve cerca de 1,5 quilômetro, indo do Marco Zero até o monumento a Zumbi dos Palmares, no Pátio do Carmo, no bairro de Santo Antônio. Ao longo de todo o trajeto, apresentações artísticas e intervenções culturais acompanharam a caminhada.
Ato destacou pautas contra racismo e violência estatal
Para militantes que participaram da construção do ato, o Dia da Consciência Negra representou mais do que uma data comemorativa: foi um momento de reafirmação da luta pela vida e pelos direitos básicos que ainda são negados à maioria da população negra brasileira.
Uma das vozes presentes no ato foi a da militante Ingrid Assunção, integrante da Marcha das Mulheres Negras. Em sua avaliação, a pauta central do evento refletia um projeto político defendido há décadas pelo movimento negro. “Reparação e bem viver são parte do projeto político que a população negra apresenta para a sociedade, propondo acesso à saúde, educação, segurança e cultura, para que a vida seja melhor para todo mundo”, disse.
Representantes de organizações juvenis também acompanharam a Marcha. Entre eles estava Lílian Araújo, militante do Levante Popular da Juventude, que reforçou a centralidade da mobilização para reivindicar políticas públicas voltadas à juventude negra.
Para ela, a data se tornava um momento fundamental para “lembrar da importância da juventude negra brasileira, que quer viver e quer ter acesso a direitos e oportunidades, a trabalho digno, a cultura, educação, esporte e lazer”. Lílian destacou ainda que “o novembro negro é um mês de memória e de luta”.
As entidades organizadoras da Marcha, reunidas na Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), divulgaram uma convocatória que apontava mudanças estruturais necessárias para superar desigualdades históricas.
No texto, chamavam a população a ocupar as ruas “contra o sistema capitalista, que suga todo o tempo de nossas vidas com a escala 6×1; contra o patriarcado, que oprime as mulheres negras; contra o fardo dos homens negros de serem provedores na miséria e escassez; contra a violência estatal nas periferias”. A convocatória também reforçava a necessidade de ação coletiva, afirmando que “apenas atuando em coletivo e unidos é que podemos fazer valer os nossos direitos”.
Intervenções artísticas marcaram percurso da manifestação
A Marcha também teve forte presença cultural, elemento que tradicionalmente compõe a mobilização e reforça tanto a herança ancestral africana quanto a valorização das expressões artísticas do povo negro. A concentração no Marco Zero foi acompanhada por apresentações que envolveram música, dança e poesia, reunindo grupos reconhecidos da Região Metropolitana do Recife.
Entre as atrações esteve uma batalha de MC’s conduzida pelo coletivo Pontezinha tem Rap, do município do Cabo de Santo Agostinho. O evento também contou com o Coco da Água Doce, grupo de Paulista que resgata ritmos tradicionais do coco, e com o Maracatu Real da Várzea, agremiação da zona oeste do Recife que integra a tradição dos maracatus de baque virado, importantes na preservação da cultura afro-brasileira.
Ao longo dos 30 minutos previstos de caminhada, a Marcha foi guiada por diferentes batucadas compostas por militantes do Levante Popular da Juventude, do Fórum de Mulheres de Pernambuco e do Grupo Curumim. Os tambores e cantos acompanharam grande parte do trajeto, reforçando o caráter simbólico da data e a presença da ancestralidade na construção das lutas contemporâneas.
O encerramento da passeata ocorreu nas proximidades do Pátio de São Pedro, espaço onde acontecia simultaneamente o AfroFest, evento cultural gratuito que reuniu atrações de maracatu, samba, afoxé, baile charme e apresentações de artistas como Mago de Tarso, representante da cena do rap, e Nêga do Babado, conhecida no brega pernambucano.
A proximidade dos eventos permitiu que muitos participantes da Marcha seguissem para o AfroFest, ampliando a celebração cultural e fortalecendo a ocupação do centro da cidade por atividades voltadas à valorização da cultura negra.
Mobilização reforçou memória e resistência
A Marcha da Consciência Negra no Recife, realizada mais uma vez no 20 de Novembro, reafirmou o propósito de manter viva a memória das lutas do povo negro e de denunciar estruturas que seguem produzindo desigualdades.
Para participantes e movimentos envolvidos, o ato simbolizou uma continuidade histórica das resistências que marcaram o passado e permanecem necessárias no presente, especialmente diante dos desafios que enfrentam as populações negras nas periferias urbanas, nos espaços de trabalho, na educação e na segurança pública.
Encerrando-se em meio a atividades culturais e à participação popular, a marcha deixou mais um registro da força do movimento negro pernambucano e de sua capacidade de reunir arte, política e memória em um mesmo espaço de reivindicação e celebração.
Fonte: Brasil de Fato (PE)
Foto: https://br.freepik.com/fotos-gratis/manifestantes-em-extase-marchando-pela-cidade_3679551.htm
