O Recife recebe, nesta quinta-feira (27), duas das principais referências do pensamento antirracista brasileiro. A psicóloga Cida Bento e a enfermeira, assistente social e crítica literária Inaldete Pinheiro participam do Festival Pernambucano de Literatura Negra, que ocorre das 14h às 21h30, com entrada gratuita. O evento será realizado no auditório Dom Hélder Câmara, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), localizada na rua do Príncipe, nº 526, no bairro da Boa Vista.
O festival chega à 5ª edição e se consolida como espaço de circulação de ideias, fortalecimento de trajetórias negras e incentivo à leitura. Além disso, a programação busca aproximar estudantes, educadores e pesquisadores de debates sobre literatura, ancestralidade e enfrentamento ao racismo. Assim, o encontro reforça o papel das iniciativas culturais na difusão do pensamento crítico produzido por mulheres negras.
Inaldete Pinheiro abre a tarde com debate sobre identidade negras
A primeira mesa de debates tem início às 15h30 e segue até as 17h. Nela, Inaldete Pinheiro divide a discussão com Kemla Baptista e Mariana Andrade. As três abordam como obras ficcionais e não ficcionais escritas por mulheres negras contribuem para o fortalecimento da identidade negra. Além disso, destacam a importância da memória e da narrativa como formas de resistência.
Pinheiro nasceu no Rio Grande do Norte e mudou-se para o Recife aos 20 anos. Ao longo da vida, graduou-se em enfermagem, concluiu mestrado em serviço social e participou da fundação do Movimento Negro Unificado (MNU). Ela também atua em organizações negras e feministas de Pernambuco. Por onde passa, combina pesquisa, vivência comunitária e histórias que recolhe e compartilha. Por isso, tornou-se uma figura central na produção intelectual e literária do estado.
A participação da escritora reafirma a relevância de autoras negras na formação de leitores e na construção de narrativas que confrontam silenciamentos históricos. Além disso, evidencia como a literatura se transforma em ferramenta de afirmação e reconhecimento.
Cida Bento discute reparação e ancestralidade em mesa noturna
A programação da noite conta com a presença de Cida Bento, que participa de uma mesa das 19h30 às 21h. O debate aborda reparação histórica e o papel da ancestralidade na construção de futuros mais justos para a população negra. A intelectual paulistana se destacou nacionalmente pelos estudos sobre branquitude e pela popularização do tema no país, sobretudo após a publicação do livro O pacto da branquitude (2022).
Bento também é autora de obras que relacionam psicologia social, educação, inclusão racial e mundo do trabalho. Ela fundou o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), instituição dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de práticas de equidade racial. Por causa desse trabalho, tornou-se uma referência na reflexão sobre desigualdade, privilégios e políticas de enfrentamento ao racismo.
A mesa em que participa aborda como a compreensão da ancestralidade fortalece estratégias de resistência. Além disso, discute como debates sobre reparação contribuem para a formulação de políticas públicas e ações institucionais capazes de reduzir desigualdades.
Festival reúne debates, sarau, música e lançamentos de livros
A programação do festival vai além das mesas com Bento e Pinheiro. Ao longo da tarde e da noite, haverá sarau literário, apresentação musical, sessão de autógrafos e lançamentos de livros. Também está prevista uma palestra sobre jornalismo negro e cultural, tema que se torna cada vez mais presente em discussões sobre representatividade e diversidade na mídia. Dessa forma, o evento amplia o alcance das reflexões sobre produção literária e circulação de narrativas negras.
A curadoria é assinada pela jornalista e escritora Jaqueline Fraga, idealizadora do festival. Ela afirma que Bento e Pinheiro são “figuras potentes e inspiradoras”, destacando a força de suas trajetórias. Para Fraga, aproximar o público dessas intelectuais incentiva novos leitores, pesquisadores e escritores a desenvolverem trabalhos que dialoguem com seus próprios repertórios.
Apoio institucional e fortalecimento da política cultural
O festival tem apoio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), vinculada à Secretaria de Cultura do Governo de Pernambuco. Esse suporte reforça o papel da política cultural na manutenção de iniciativas que ampliam o acesso à literatura e aos debates sobre identidade, memória e combate ao racismo.
Ao reunir duas intelectuais negras de destaque nacional, o evento se consolida como um espaço de formação e troca. Além disso, fortalece a circulação de ideias produzidas por mulheres que transformaram debates sobre raça, educação e cidadania no país. Assim, o festival reafirma a importância de encontros que promovem diálogos e contribuem para a construção de uma sociedade mais plural.
Fonte: Brasil de Fato
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