A pessoa que não reconhece ter uma “mania” é mais difícil que ela busque um tratamento, pois na cabeça dela está tudo bem
É comum ouvir no dia a dia alguém dizer à outra: “você tem mania disso ou daquilo”. Isso significa que ela não consegue deixar de lado manias. Um exemplo disso é alinhar a escova de dentes na pia, acertar o papéis em cima da mesa ou ainda lavar as mãos cerca de dez vezes.
É importante que não se confunda a palavra mania com maníaco. Este último termo diz respeito a quem comete crimes em série. No entanto, para a medicina, o criminoso em série é um sociopata, e não um maníaco. A primeira pessoa não tem manias, mas compulsões.
Mania pode ser pior que depressão
Mania é bem diferente, o oposto de sintomas de depressão. Já o maníaco é o indivíduo no estado de mania, que pode ser duradouro ou efêmero. Além disso, não ajuda o fato de a depressão ser uma doença cerebral bastante conhecida até, apesar de muitos a tratarem como uma “frescura”, e achar que a pessoa pode resolver suas questões internas de uma hora para outra, como num passe de mágica.
A mania também é uma doença, que à primeira vista pode ser encarada como algo bom, mas lá na frente pode não ser.
No caso do maníaco, tudo parece estar excelente, ainda mais quando a mania é considerada leve, em que o sistema de motivação e recompensa faz hora extra. Com isso, o hipomaníaco se satisfaz com pouco, vive contente, aparenta ser carismático e uma boa companhia. Costuma gastar dinheiro facilmente, pois o retorno antecipado com qualquer compra já é compensador em relação à quantia gasta, que inclusive dá a sensação de que “no mês que vem tem mais”.
Encontros esporádicos
Quem não convive de perto com a pessoa que tem mania não enxerga nela algo ruim. Ao contrário, apenas vê uma pessoa feliz e gentil. Mesmo que no fundo eles estejam começando a demonstrar que a casa irá ruir, os hipomaníacos são, geralmente, atraentes e exuberantes.
Porém, quando o sistema de recompensa transborda e a dopamina começa a sair “pelas orelhas”, a pessoa em hipermania só vê o lado bom de tudo que realiza. E como tudo que vem de dentro contém dopamina, o hipermaníaco também não consegue aplicar outros pontos de vista. A convivência com ele é difícil; as dívidas passam a se acumular e a vida fica desorganizada. No entanto, o hipomaníaco acredita que o problema está nos outros e não nele mesmo.
Como lidar com a pessoa com mania que excede?
Mas como se deve lidar com a pessoa que tem este tipo de “mania”? No caso da depressão que é algo doloroso e ninguém quer ter, a pessoa com mania é mais difícil de querer buscar um tratamento. Para eles, o fato de sempre se sentirem bem neste estado maníaco dificulta o processo de aceitação. O efeito da doença é um excesso de satisfação que contraria todas as evidências. E a oportunidade é maior ainda quando o maníaco volta à normalidade (comprovado estatisticamente), indicada muito bem pelo retorno do sono.
Portanto, quem possui mais chances de se tratar são os outros, que estão ao redor, que podem aprender a reconhecer a mania alheia e, consequentemente, cuidar de si mesmos. Tudo isso é iniciado a partir de informações, de fazer uma autoanálise e autoconhecimento. Em algumas situações dar um “basta” já é um grande tratamento.
Fonte: Folha de S. Paulo
*Foto: Divulgação