Afastamentos por saúde mental destaca a necessidade urgente de medidas que garantam de fato que essas pessoas sintam-se saudáveis em seu ambiente de trabalho
Mesmo após o término da crise sanitária por conta da pandemia de Covid-19, a sociedade ainda enfrenta o aumento dos casos de afastamento do trabalho em razão de transtornos mentais provocados por um ambiente de trabalho nada saudável.
Todavia, segundo a enfermeira do SUS, Nathalia Belletato, apesar do aumento de casos de ansiedade na pandemia, as pessoas aprenderam a focar em seu bem-estar após esse período de crise.
Por outro lado, um impacto negativo que reflete em toda a sociedade destaca a necessidade urgente de medidas que garantam de fato que essas pessoas sintam-se saudáveis em seu embiente de trabalho
Afastamentos por saúde mental
O ano de 2023 gerou afastamentos por saúde mental da ordem de 288.865 casos, registrados pelo INSS. Isso configura um crescimento assustador de 38% em relação ao ano anterior.
Além disso, os dados do Ministério da Previdência Social trazem os motivos de afastamento mais frequentes. São eles: depressão, ansiedade, transtorno de adaptação e síndrome de Burnout. Ainda em 2023, foi publicado um estudo, intitulado Panorama de saúde mental nas organizações brasileiras, que coletou informações de mais de 24 mil pessoas da nossa base de clientes que responderam ao DASS-21, questionário que mensura os níveis de depressão, estresse e ansiedade.
Resultados do levantamento
Nesse levantamento:
- 23% dos não líderes têm algum quadro de ansiedade;
- 15% dos líderes apresentam o problema.
Todavia, outros 10,12% apresentam um quadro extremamente severo de ansiedade. Em contrapartida, transtornos como a depressão e o estresse têm incidência em 18% dos não líderes e 10% de incidência (depressão) e 12% (estresse) entre os líderes.
Por que as mulheres são as mais afetadas?
Em relação a gênero, nos casos severos e extremamente severos de ansiedade, depressão e estresse, as mulheres sofrem mais que os homens:
- 6,6% dos homens contra 10,4% das mulheres apresentam níveis severos de estresse;
- 9% dos homens vs 15% das mulheres para ansiedade;
- e 8% dos homens vs 10% das mulheres para depressão.
A sociedade como um todo ainda exige muito das mulheres, que acumulam diversas responsabilidades, dentro e fora de casa. O que pode aumentar os níveis de ansiedade e estresse, contribuindo para o impacto na saúde mental.
Dados da OIT
Em 2019, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) coletou dados em 64 países em que as mulheres dedicam, em média, 3,2 vezes mais tempo do que os homens com trabalhos não remunerados de cuidado, como planejamento e preparo da alimentação da família, cuidado de doentes, ou limpeza da casa. No Brasil, as mulheres dedicam até 25 horas por semana a afazeres domésticos e cuidados, enquanto os homens apenas 11 horas, revela um estudo do FGV Ibre realizado em outubro de 2023.
Geração sanduíche
Por sua vez, a geração sanduíche diz respeito ao aumento da longevidade da população e a tendência de terem filhos mais tarde, está se tornando cada vez mais comum o fato de as mulheres terem de lidar com o cuidado de pessoas de duas gerações: seus pais e filhos.
Ainda não existe estatísticas precisas no Brasil. Porém, segundo dados da Pnad Contínua de 2019: 54,1 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais cuidavam de outros moradores da casa ou de parentes.
Mas pelo fato de não ser uma atividade remunerada, tal trabalho exercido na economia do cuidado não é valorizado pela sociedade, mas tem impacto significativo na rotina diária das mulheres. O estudo da FGV Ibre estima que a economia doméstica e do cuidado acrescentaria 13% ao PIB se fosse remunerado. Portanto, para conseguir conciliar tudo isso, é fundamental que haja um maior equilíbrio da saúde mental entre as mulheres.
Cuidando da saúde mental dos colaboradores nas empresas
Para que tenha um avanço significativo é preciso tangibilizar, em números, o impacto da saúde mental nos negócios.
Quando uma empresa é avaliada neste quesito, diversos indicadores são considerados, como: absenteísmo, aumento do FAP (pagamento de maiores contribuições previdenciárias), licença médica por CID-F, aumento do turnover voluntário, sinistralidade descontrolada e alto índice de reajuste nos planos de saúde, presenteísmo e desengajamento são alguns deles. Por fim, um estudo verificou que, atualmente, há aproximadamente entre 30% e 40% de populações impactadas pelo presenteísmo. Isso representa um desperdício de 30 a 40% da folha de pagamento todos os meses.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/medico-cuidadoso-consolar-jovem_6414763.htm#fromView=search&page=1&position=16&uuid=0eff7ab5-1610-4208-b377-4977f9bf3719