Arte do mamulengo vivenciada no interior de Pernambuco com as tecnologias sociais durante a pandemia fazem parte do estudo
No mês de março quando foi instituído o cenário de calamidade pública por conta da pandemia do novo coronavírus, muitos setores da economia brasileira foram prejudicados, em especial a cultura.
Diante deste cenário, como os mestres da cultura popular estão mantendo seu ofício? Isso inclui a arte do mamulengo, que é uma forma tradicional do teatro de bonecos da região Nordeste. Durante o período de isolamento, seus mestres passaram a utilizar as tecnologias sociais para manter sua arte viva.
Arte do mamulengo nas redes
A interação pela internet chamou a atenção do ator, bonequeiro e dramaturgo, Alex Apolônio. Surgiu assim a pesquisa “Mamulengo em Tecnovívio”. A partir deste conceito, Apolônio desenvolveu um estudo e quatro episódios de um podcast sobre essa realidade. O conteúdo foi difundido pelo programa Cultura em Rede Sesc Pernambuco. Em entrevista, o bonequeiro explicou:
“Começou o confinamento e o setor cultural foi um dos primeiros a parar e a realidade dos brincantes de mamulengo parou junto também. É uma categoria que depende muito de evento, como a Feneart e o FIG (Festival de Inverno de Garanhuns), nisso eu comecei a notar os mestres em casa se relacionando com as redes sociais, alguns com mais habilidade e experiência e outros sendo assessorados por amigos, foi aí que eu atinei pra essa realidade.”
Produção de forma remota
Sendo assim, com um produção de forma remota, ele busca se aprofundar sobre as alterações na dramaturgia e vida dos mestres e bonequeiros no contexto da pandemia de Covid-19. O objetivo é compreender o que têm vivido os mestres da arte do mamulengo. Isso desde suas casas na Zona da Mata até o universo virtual das redes sociais e plataformas digitais.
Para chegar ao formato difundido, foram entrevistados em torno de 23 artistas para entender como a crise sanitária afeta os brincantes. Desses, quatro foram selecionados para participar do podcast: As Mulheres do Mamulengo Teatro Riso: A Cida Lopes, a Neide Lopes e Larissa Lopes; Mestre Miro de Carpina, Mestre Vitorino de Igarassu e Mestre Tonho de Pombos.
Falta de retorno imediato
Alex revela que o maior desafio dessa nova modalidade para levar a arte do mamulengo às redes sociais foi a falta de um retorno imediato.
“O mamulengo é uma arte que encontra sentido no contato com quem tá assistindo, o desenvolvimento da peça depende muito do que as pessoas devolvem pros bonecos.”
Portanto, houve uma fase de adaptação pelos próprios artistas:
“Aos poucos, eles começaram a vender os bonecos pelo Instagram, criaram canais no Youtube com vídeos registrando a produção dos bonecos, falando da tradição do mamulengo, então eles foram se apropriando do que essas redes podem contribuir.”
Divulgação
Antes da pandemia, essas redes serviam apenas como espaços de divulgação, como cartazes e teasers das apresentações. Ou seja, não era visto como um local de encontro.
“O saldo dessa pesquisa foi perceber isso. Como esses espaços não eram vistos e agora são encarados como lugares de apresentação, além de demonstrar a força da internet em diminuir distâncias e ampliar o alcance dessa arte.”
Por outro lado, para muitos mamulengos foi difícil entender como fazer esta transmissão de seu trabalho ao vivo. Além de engajar, do dia para noite. Portanto, eles tiveram que se reinventar rapidamente.
E é justamente nesta capacidade de adaptação e reinvenção da arte do mamulengo que os artistas tiraram a força necessária para seguirem adiante. Eles aprenderam nesta pandemia que o fundamental é se comunicar com o povo, e que não importa como, nem onde, conclui Alex:
“Os mamulengueiros vão pra internet pra entender o que as pessoas estão buscando e se conectarem a elas sem precisar mudar sua essência, porque tem a ver com o estado de espírito, o riso, a magia que os bonecos provocam e isso é possível também nas redes sociais.”
*Foto: Divulgação/Filipe Santos