Artesãs de Pernambuco conta com empresa que reúne mulheres cujas peças decoram casas de clientes de alta renda; 80% da produção é exportada aos Estados Unidos
Concentradas nos municípios de Lagoa do Carro, Camaragibe e Limoeiro, no estado de Pernambuco, mulheres artesãs bordam tapetes de pura lã para clientes de alta renda, sem sair de casa. O trabalho remoto é praticado há quase 60 anos e é responsável por aumentar a renda familiar, e 80% da produção é exportada aos Estados Unidos. E ultimamente o ofício tem atraindo também maridos e filhos dessas artesãs.
Artesãs de Pernambuco
As artesãs de Pernambuco revelam ainda que os tapetes de pura lã, nos anos de 1970 e 1980, chegaram a atrair um grupo de 100 mulheres bordadeiras. Atualmente, aproximadamente 50 pessoas recebem as encomendas administradas por Thereza Pessôa de Queiroz, que reside em São Paulo e responde pelos negócios da Casa Caiada, fundada em 1966 por sua mãe Maria Digna e a tia Edith, ambas Pessôa de Queiroz.
A ideia de bordar tapetes começou através de conversas entre as duas mulheres. Thereza recorda que sua mãe não gostava muito de tapetes persas. A opção seria importar arraiolos portugueses. Porém, Maria Digna queria fazer algo para se ocupar e ajudar as mulheres de baixa renda da região a ter um pouco mais de renda. Então, Edith viajou ao Rio de Janeiro e comprou as primeiras telas e lãs.
Em seguida, as duas começaram a bordar tapetes para colocar nos pisos das casas. Para isso, criaram um ponto novo, adicionando uma terceira laçada ao ponto em forma de cruz. A trama ficou mais firme e o ponto é conhecido como “ponto Casa Caiada”.
Clientela
A clientela foi surgindo através de familiares e amigos. Além disso, a família Pessôa de Queiroz era dona da usina de açúcar Santa Therezinha, uma das maiores do país, e frequentava a alta sociedade pernambucana.
Os desenhos dos tapetes foram inspirados em azulejos portugueses, decorando as fachadas de casas em Recife, o que chamou a atenção da Fundação Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
A seguir, o que era um pequeno negócio tomou uma proporção bem maior, atravessando estados e fronteiras, resultando até em livro: “Casa Caiada, uma história entre linhas” (Editora Usina de Arte). Já a exposição de 30 tapetes na FAAP, recebeu mais de 5 mil visitantes, em 1969. Este foi o start para que Maria Digna passasse a ser convidada a mostrar seu trabalho em várias partes do Brasil e até mesmo na Europa.
Contudo, foi nos Estados Unidos onde os tapetes pernambucanos encontraram grandes clientes. Isso porque os decoradores e arquitetos trabalham por lá de forma muito profissional. Sabem exatamente o que querem e não se importam de esperar até que o tapete fique ponto. Por outro lado, consumidores brasileiros costumam esta paciência toda.
Bordados florais
E foram os clientes norte-americanos que motivaram as artesãs a bordarem desenhor florais. Antes, as estampas eram inspiradas na cerâmica marajoara e padrões geométricos. O Itamaraty encomendou um tapete, em tons de amarelo e turquesa, que pode ser visto até hoje em cerimônias no Palácio do Planalto.
Obras de artistas
Obras de artistas como Cícero Dias, Volpi, Claudio Tozzi, Antonio Peticov e Marcio Antonon foram estampadas nos tapetes de Casa Caiada. O poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, e os livros “D’A Pedra do Reino” e “O Rei Degolado”, de Ariano Suassuna, também aparecem em peças das artesãs.
Peças prontas
Durante 18 anos, foi mantida uma loja em São Paulo, com tapetes a pronta entrega, porém, a venda destas peças não deu tão certo e agora a
Os tapetes são de pura lã, e o forro é de 100% algodão. Nada de sintético na produção, tudo é natural. Na tapeçaria brasileira, as peças da Casa Caiada são produtos de luxo. Um tapete de 6 metros de largura por 9 de comprimento, por exemplo, pode levar 10 meses para ficar pronto, com nove pessoas trabalhando. Dependendo do desenho escolhido, um metro pode custar R$ 1.890 e leva um mês para ser bordado. Um metro quadrado de tapeçaria tem 4.800 pontos.
Faturamento
A Casa Caiada fatura em torno de R$ 500 mil por ano, mas esse número pode variar bastante, dependendo do número de encomendas e do prazo para terminar as peças.
As artesãs recebem um pacote com a tela e as lãs, levado de motocicleta por um funcionário do depósito. É bordado um pedaço pequeno do tapete, que é fotografado e enviado ao cliente. Aprovado, o trabalho prossegue.
Atualmente com 92 anos, Maria Digna não trabalha mais. Está com 92 anos e, às vezes, a memória falha. Entretanto, se a filha pedir para que risque um desenho, combine cores para um tapete, ela senta e faz na hora.
Fonte: Foto de pvproductions na Freepik