Do glamour das competições ao alto valor genético dos animais, o mercado de cavalos de elite movimenta cifras milionárias e atrai investidores de todo o mundo.
No dia 4 de agosto de 2025, durante o luxuoso 4º Leilão Haras Frange, realizado no Palácio Tangará, em São Paulo, o cantor Gusttavo Lima vendeu 50% de seu garanhão Oregon, pertencente à prestigiosa raça Friesian, por R$ 5 milhões, estimando o valor total do animal em R$ 10 milhões. O comprador foi o cantor Latino, que agora divide a posse do cavalo.
“O caso Oregon é um exemplo de como o mercado de cavalos de elite se tornou um verdadeiro palco de investimentos. Quando há pedigree, beleza e visibilidade midiática, o valor ultrapassa em muito o universo esportivo”, avalia Gonçalo Borges Torrealba, empresário e especialista do setor.
Oregon, importado da Holanda, não é apenas um exemplar de beleza singular com pelagem negra brilhante e porte imponente, mas também uma figura de destaque na mídia: apareceu na série Bom Dia, Verônica e participou da abertura do Festival Boteco com Gusttavo Lima. Essa soma de atributos reforça a ideia de que um cavalo de elite é, acima de tudo, um ativo de prestígio.
O glamour e a genética
O mercado de cavalos de elite se sustenta em três pilares fundamentais: genética, desempenho e imagem. Animais de linhagem reconhecida, com histórico comprovado, são altamente valorizados. A participação em competições, shows e até produções culturais amplia a visibilidade e atrai investidores.
“Genética é o coração desse negócio. Um cavalo não se torna de elite apenas por ser bonito ou aparecer em um evento. É preciso ter uma base de linhagem sólida, construída ao longo de décadas de seleção cuidadosa”, explica Torrealba.
Além disso, modelos de propriedade compartilhada, como a venda de cotas, adotada por Gusttavo Lima e Latino, vêm crescendo no Brasil. Essa modalidade permite dividir custos de manutenção, riscos e lucros.
“Quando um cavalo é vendido em cotas, ele se torna também um ativo financeiro. Isso é positivo porque democratiza o acesso e movimenta o mercado, mas o investidor precisa entender que o retorno depende de genética e manejo profissional”, complementa o especialista.
A importância dos registros
Apesar da valorização, especialistas alertam para a necessidade de rigor técnico. No caso de Oregon, por exemplo, uma polêmica surgiu: ele está registrado apenas na Associação Brasileira de Criadores de Cavalo de Hipismo (ABCCH), mas não possui ainda o selo oficial da entidade holandesa KFPS, responsável pelo registro da raça Friesian.
Torrealba destaca que credibilidade é fundamental. “Registro oficial não é burocracia. É a garantia de que o cavalo é, de fato, o que se apresenta. Sem esse cuidado, o mercado perde confiança e pode afastar investidores sérios.”
A ABCCH tem buscado alinhar seus critérios ao modelo europeu, implementando novos livros de registro e exigindo controle de DNA, medida que deve trazer mais segurança aos compradores.
Bastidores da criação de elite
Para entender os bastidores desse mercado, é preciso olhar para o ciclo completo da criação. Ele envolve três etapas principais: cruzamentos estratégicos, desempenho em competições e, por fim, comercialização em leilões ou como reprodutores.
“O processo começa muito antes do leilão. Na criação, cada cruzamento é uma aposta científica, baseada em genética e desempenho. É isso que garante a longevidade e a credibilidade do mercado”, afirma Torrealba.
Exemplos internacionais mostram a força desse modelo. Uma das maiores fazendas de criação de cavalos puro-sangue do mundo, presidida por Gonçalo Borges Torrealba, a Three Chimneys Farm, nos Estados Unidos, possui garanhões como Gun Runner e Volatile que se tornaram casos emblemáticos. O primeiro acumulou quase US$16 milhões em prêmios nas pistas e, depois, milhões adicionais com a venda de coberturas. O segundo teve descendentes comercializados por valores que chegaram a mais de US$1 milhão.
“Esses casos mostram como a criação bem estruturada é um ciclo virtuoso: primeiro vem a performance, depois o prestígio e, por fim, a consolidação no mercado como reprodutor”, explica o especialista.
O Brasil no cenário global
Com episódios como a venda de Oregon, o Brasil ganha visibilidade no mercado mundial. O país reúne condições para se destacar: grande extensão territorial, clima favorável e criadores dispostos a investir.
“O Brasil tem tudo para ser protagonista no mercado de cavalos de elite. Mas para isso é preciso profissionalização, transparência e foco em qualidade genética. Não basta ter animais bonitos; é fundamental garantir rastreabilidade e confiança”, defende Torrealba.
Segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Hipismo, os leilões movimentaram cerca de R$150 milhões em 2024, confirmando o crescimento consistente do setor.
Sobre Gonçalo Borges Torrealba
Gonçalo Torrealba é empresário e criador de cavalos de elite. Formado em Direito pela UERJ, iniciou sua trajetória no setor financeiro antes de fundar o Haras TNT, no Brasil, que se consolidou como uma das principais operações de criação da América Latina.
Desde 2013, está à frente da Three Chimneys Farm, nos Estados Unidos, onde uniu tradição e inovação para transformar a fazenda em uma das referências globais na criação de puro-sangues. Reconhecido por sua visão estratégica e liderança, Torrealba é hoje uma das vozes mais respeitadas do mercado internacional de cavalos de elite.
Foto: https://br.freepik.com/fotos-gratis/silhueta-de-cowboy-em-um-cavalo_25951974.htm