Implante na medula espinhal é altamente promissor, uma vez que permite que pacientes com mobilidade reduzida pela doença de Parkinson retomem a capacidade de movimento
Na Suíça, pesquisadores da Lausanne University Hospital (CHUV) testam um novo implante na medula espinhal que permite que pessoas com a doença de Parkinson voltem a andar, conhecido como neuroprótese. A pesquisa saiu na revista científica Nature Medicine. Já a tecnologia pode ser revolucionária para pacientes que enfrentam esse debilitante transtorno cerebral.
Vale lembrar que nos Estados Unidos já existe um método que utiliza indução de choque térmico não invasivo que melhora a condição dos pacientes com Parkinson e outras enfermidades. O método é patenteado e criado pelo médico brasileiro Marc Abreu.
Implante na medula espinhal
Voltando ao implante na medula espinhal, por enquanto, a única pessoa a experimentar o implante é Marc, de 62 anos, que convive com o Parkinson há quase 30 anos. Até então, o homem já tinha tentado todos os tratamentos disponíveis para impedir o avanço da doença. Porém, continuava a perder sua capacidade de movimento e locomoção. Entretanto, a verdadeira melhora só foi notada com o sistema de programação direcionada de estímulos da medula espinhal que se adaptam, em tempo real, aos seus movimentos.
Todavia, antes disso, a mesma equipe de pesquisadores suíços desenvolveu uma nova interface cérebro-máquina para que um paciente com paralisia nas pernas — uma complicação mais profunda e grave na capacidade de movimento — voltasse a andar, com o impulso dos pensamentos. O mais novo implante funciona a partir dos mesmos princípios de intencionalidade, mas tem suas particularidades.
Em nota, antes do implante na medula, Marc conta que “mal conseguia andar sem quedas frequentes, várias vezes ao dia. Em certas situações, como ao entrar num elevador, eu congelava, como dizem”.
Sintomas do Parkinson
A dificuldade para andar é um dos sintomas mais comuns entre aqueles que sofrem com o Parkinson avançado. A perda da capacidade de mobilidade chega a afetar até 90% dos indivíduos neste estágio.
O outro sintoma descrito como “congelamento” é também bastante comum. No caso, de forma inesperada, ao pacientes sentem como se estivessem colados ao chão, não conseguindo se movimentar por alguns segundos ou mesmo minutos. Isso também contribui com as quedas.
Implante “curou” o Parkinson?
Na questão dos movimentos, é possível dizer que o implante na medula espinhal curou os sintomas mais comuns da doença em Marc. Isso porque após algumas semanas de reabilitação com a neuroprótese, o homem recuperou a sua marcha para um estágio quase normal, o que é um resultado impressionante para o Parkinson.
Agora, Marc deixa o dispositivo ativado por mais de 8 horas por dia, desligando quando passa muito tempo parado ou dormindo. “Ligo o sistema de estimulação de manhã e desligo à noite”, afirma. Com isso, voltou a ser parte da sua rotina subir escadas — “elas não me assustam mais”, confessa. Ele também caminha cerca de 6 km aos domingos.
Por outro lado, ainda é cedo para afirmar que o implante curou a doença ou a estabilizou. Contudo, é possível que o dispositivo tenha essa capacidade, mas isso só será provado após longos períodos de acompanhamento e muitos exames.
Como funciona o implante na medula espinhal?
O implante suíço tem como foco a medula espinhal. Esta é responsável pela ativação dos músculos das pernas durante a caminhada e que, a princípio, não é diretamente afetada pelo transtorno cerebral.
Segundo Jocelyne Bloch, neurocirurgiã, professora da CHUV e uma das autoras do estudo:
“É impressionante notar que ao estimular eletricamente a medula espinhal de maneira direcionada, da mesma forma que fizemos em pacientes paraplégicos, podemos corrigir os distúrbios da marcha causados pelo Parkinson.”
A principal diferença entre os dois quadros é que, no paciente com paralisia total, a lesão sofrida rompeu a comunicação entre o cérebro e a medula. No caso de Marc, essa ligação ainda existe, porém, está enfraquecida pela morte dos neurônios.
Sendo assim, o complexo sistema de neuroprótese mede os movimentos residuais da perna — a intenção de andar do paciente —, por meio de sensores, e envia os estímulos elétricos para a medula espinhal, fazendo com que o indivíduo caminhe como gostaria. Há também um gerador de impulsos elétricos implantado sob a pele do abdômen.
A neuroprótese está disponível?
Por fim, como já mencionado acima, Marc é o único paciente do mundo a testar a nova tecnologia de implante na medula espinhal. E conforme o período de uso avance e os resultados sejam analisados, é possível que, no futuro, a neuroprótese esteja disponível para mais pessoas que enfrentam o Parkinson.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/medico-de-vista-frontal-explicando-anatomia_33753994