O sommelier explica o conceito e destaca como a construção desse ambiente tem impacto na produção de um bom vinho
O universo do vinho sempre fez parte das rodas de conversa. No entanto, cada vez mais a indústria deste segmento tem investido em uma produção de qualidade que atraia até mesmo as pessoas que não tão familiarizadas com esta bebida. E dentro deste universo, um termo é bastante utilizado: o ‘terroir’. Confira a seguir como esse ambiente é fundamental para qualquer vinícola que deseja ter uma produção de alta qualidade.
O que é terroir?
O termo terroir é francês e reflete toda a influência do ambiente onde as uvas são cultivadas. Isso inclui a escolha do tipo de solo, bem como seu clima, topografia e até mesmo a cultura local. Todos esses fatores podem determinar o sucesso de uma vinícola.
De acordo com o sommelier Luciano Mestrich Motta, “a importância do terroir reside na sua capacidade de conferir identidade e singularidade aos produtos. Cada terroir é único e irreproduzível, criando um perfil sensorial distinto que diferencia um vinho de Bordeaux de um vinho da Toscana, por exemplo. Este conceito promove a valorização da diversidade e da autenticidade, destacando o papel das práticas tradicionais e do respeito ao meio ambiente”.
Processo de cultivo
Por outro lado, o terroir também diz respeito às características geográficas de uma determinada região. Mas, é preciso ter em mente que a influência humana no processo de cultivo das vinhas e na produção do vinho também são importantes.
Para se ter uma ideia, já vem de muitos séculos o processo de trabalho dos viticultores, que envolve a seleção de variedade de uvas e dos métodos de vinificação a serem utilizados. Em outras palavras, o terroir também compreende a cultura e tradição transmitida de geração em geração.
Quantidade significa qualidade?
Contudo, uma vinícola deve prestar atenção na qualidade do vinho em oposição a quantidade produzida. A regra abrange desde as escolhas feitas na videira até o armazenamento nas adegas. Sendo assim, os produtores que buscam por qualidade sobre quantidade escolhem práticas mais sustentáveis de cultivo.
Além disso, esses produtores já estão familiarizados com o cultivo orgânico da uva ou biodinâmico das vinhas. Neste caso, a colheita manual é capaz de garantir a seleção dos melhores cachos e o uso mínimo de produtos químicos na vinificação.
Já em relação à adega, cada detalhe é essencial, uma vez que os produtores de vinhos terroir preferem, em algumas ocasiões, intervenções mínimas e, consequentemente, irão manter as características naturais das uvas, que se expressarão de um modo mais marcante no resultado do vinho.
Outras práticas comuns neste tipo de produção são a utilização de fermentações naturais, envelhecimento em barris de carvalho de mais uso e de alta qualidade e engarrafamento sem filtração. E o resultado: vinhos que capturam e expressam a verdadeira essência do lugar de onde vieram.
Mercado de vinhos
Em relação ao mercado terroir, ele tem um impacto econômico significativo, uma vez que os produtos podem chegar a preços Premium. O sommelier Luciano Mestrich Motta complementa ainda que “os consumidores estão dispostos a pagar mais por bebidas que carregam a garantia de qualidade e autenticidade que o terroir proporciona. Assim, o conceito não é apenas um fator de qualidade, mas também uma ferramenta de marketing e valorização cultural”.
Volume e preço
Porém, existem produtores mais focados no volume e na redução dos preços. As grandes indústrias vinícolas operam a partir de um modelo de negócios voltado à produção em larga escala.
Essas empresas atendem a demanda global por vinhos com valores mais acessíveis. Neste caso, o método de produção é automatizado e padronizado, com foco na consistência em detrimento da singularidade.
O papel dos pequenos produtores
Em contrapartida, cada vez mais o mercado apresenta vinhos de pequenos produtores que se baseiam no método terroir e que se destacam nesta cadeia produtiva por sua dedicação à qualidade.
Esses produtores concentram-se mais em cultivos limitados de vinhos de alta qualidade, ou seja, conseguem capturar a essência única de seu terroir.
Portanto, vale a pena ir atrás deste nicho de mercado para ter a chance de saborear uma bebida que foi completamente pensada para ter qualidade, autenticidade, essência e um sabor único a depender da região onde foi cultivada.
Competição
A busca por autenticidade e padronização gera uma competição entre os pequenos produtores e as grandes indústrias. No caso das empresas maiores, estas podem oferecer conveniência e acessibilidade. Já os pequenos produtores se destacam pela sua paixão, criatividade e dedicação à preservação das tradições vinícolas.
Além disso, os pequenos produtores demonstram uma conexão maior com a terra cultivada, resultando em bebidas que expressam o melhor de seu terroir. Em contrapartida, as indústrias vinícolas concentram-se mais na eficiência, automação e na maximização dos lucros, muitas vezes deixando de lado a singularidade.
Conclusão
Por fim, diante de todas essas diferenças listadas neste artigo, fica a cargo do consumidor escolher o vinho que mais lhe agrada. Enquanto alguns consumidores valorizam a emoção e autenticidade dos vinhos de terroir, outros preferem bebidas mais acessíveis.
A escolha entre os vinhos produzidos por pequenos produtores e aqueles das grandes indústrias vinícolas é uma questão de preferência pessoal. Saber como funciona o universo do cultivo de uvas, acarreta melhores escolhas e pode criar uma experiência personalizada.
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