Memorial da Democracia de Pernambuco foi inaugurado pela Prefeitura do Recife e Governo do Estado; prefeito João Campos assinou termo de cessão do Casarão do Sítio Trindade, em Casa Amarela, para abrigar o espaço por 30 anos
No dia 29 de dezembro, Recife ganhou o Memorial da Democracia de Pernambuco Fernando de Vasconcelos Coelho. Trata-se de um novo espaço físico na capital para preservação da memória, das lutas por liberdade e por justiça social.
Memorial da Democracia de Pernambuco
Além disso, o Memorial da Democracia de Pernambuco passa a funcionar no Sítio Trindade, em Casa Amarela, em espaço cedido pela Prefeitura, com a proposta de abrigar um vasto acervo documental. O ambiente é resultado de um trabalho produzido pela Comissão da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, criada em 2012, pelo ex-governador Eduardo Campos. O memorial será espaço de visitação pública, de pesquisas e estudos, contribuindo para a formação cidadã e fortalecimento da democracia.
Inauguração
Na inauguração, o prefeito João Campos assinou termo de cessão do casarão do Sítio Trindade ao Governo do Estado por 30 anos. Sendo assim, todo o equipamento permanece sendo usado e administrado pela Prefeitura, incluindo as ações nos ciclos festivos e culturais da capital.
Em declaração, João Campos explica:
“Hoje é um dia histórico onde a gente inaugura o Memorial da Democracia Fernando de Vasconcelos Coelho, fazendo uma justa homenagem a Fernando e uma necessária referência à democracia. A gente teve nos últimos dez anos um trabalho muito bem feito da Comissão de Memória e Verdade de Pernambuco, que tem um acervo muito grande e agora está completamente acessível às pessoas. É importante a gente valorizar e reconhecer a democracia, sobretudo para as próximas gerações. O memorial é importante para a minha geração e as futuras terem o direito de conhecer a nossa História. Quando se conhece bem, a gente pode repetir acertos, mas jamais cometer os mesmos erros.”
Sítio Trindade
O Sítio Trindade significa resistência. Por isso, a escolha do casarão da Prefeitura do Recife reforça a resiliência histórica à luta de Pernambuco. Tombado por sua importância cultural, o local já acolheu o Forte Arraial do Bom Jesus, no século XVII, foco de resistência contra os invasores holandeses. Já entre 1960 e 1964, seu chalé foi a sede do Movimento de Cultura Popular (MCP), que reuniu nomes como Paulo Freire, Abelardo da Hora e Francisco Brennand e teve as atividades encerradas após ser invadido por tanques na ditadura militar.
Construção
O memorial foi construído com recursos do tesouro estadual, segundo o governador Paulo Câmara. O espaço conta com salas com exposição onde o visitante poderá acessar versões digitais do relatório final da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), com mais de 800 páginas, e os mais de 70 mil documentos coletados, entre prontuários, certidões de óbito, entrevistas e depoimentos.
Está previsto ainda no equipamento uma biblioteca com livros que convergem para a temática proposta pelo memorial, sala para palestras, debates e para exibição de filmes.
Conteúdo histórico
Já o conteúdo histórico do memorial é distribuído em cinco salas do casarão. Dedicada à memória dos que combateram a ditadura militar, aos que foram mortos ou desapareceram durante o regime de exceção (1964-1985), a sala de número 5 é considerada o ponto alto do equipamento. Ali, podem ser vistas imagens de flagrantes de repressão, de manifestações de ruas e referências aos 51 mortos e desaparecidos políticos em Pernambuco ou de pernambucanos vítimas do regime militar fora do Estado.
Curadoria
O Memorial da Democracia tem curadoria da socióloga Isa Grinspum Ferraz, também responsável pela curadoria do Museu Cais do Sertão, e a coordenação de conteúdos e roteiros do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Sobrinha do guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado em 1969 por agentes do regime militar, Isa montou um roteiro em que o visitante conhece personagens importantes para a criação da ideia de um estado pernambucano. Além de passar pelas lutas libertárias e contra a escravidão, a história e o propósito do MCP e enfrentamento ao regime de exceção implantado pelos militares em 1964.
Origem do Memorial
O Memorial recebe o nome do advogado, professor e político Fernando de Vasconcelos Coelho, que foi o coordenador geral da CEMVDHC, onde encerrou a vida pública. Fernando se destacou nas ações de combate à ditadura militar. Consagrado no estado, faleceu em 2019. O evento aberto ao público contou também com a presença de ex-presos políticos e familiares, de autoridades políticas, religiosas e do movimento social. Com entrada gratuita, o local é aberto para visitação de terça a domingo, das 10h às 18h.
*Foto: Reprodução