Viagens para pessoas com deficiência visual podem ter todo o acesso a uma viagem que queira fazer a partir da empresa Vilacessível; que oferecem serviço de audiodescrição e experiência sensorial
Desde 2005, a lei nº 11.133 instituiu a data 21 de setembro como o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, um momento de conscientização sobre os direitos de uma comunidade que ainda enfrenta grandes obstáculos na busca por usufruir com dignidade as atividades mais básicas de bem-estar social e de mobilidade.
Viagens para pessoas com deficiência visual
Pensando nisso, a agente de viagens Simone Freire, que conhece bem esses desafios e trabalha para que eles sejam minimizados, decidiu criar a agência de turismo Vilacessível, focada em proporcionar uma ampla experiência de lazer de viagens para pessoas com deficiência visual.
Sediada em Santo André (SP), a empresa oferece pacotes de viagens para diversos pontos turísticos brasileiros a partir de R$ 1,5 mil. No roteiro, os grupos — em geral com 150 pessoas — têm opções de atividades de aventura, festas, passeios gastronômicos e contemplativos. Além disso, todos os pontos oferecem o serviço de guias que fazem audiodescrição, um método de apresentação narrativa que traduz as imagens em palavras.
Próprias necessidades
Vale ressaltar que o formato dos serviços foi pensado cuidadosamente por Freire a partir de suas próprias necessidades como deficiente visual. Em 2000, ela estava no último ano da faculdade de Direito quando perdeu 100% da visão devido a uma doença ocular. Ela passou por 24 cirurgias que não reverteram a situação, e conta que não queria deixar que isso a impedisse de ter sua independência e nem mesmo comprometesse sua vida social.
Outra questão importante é que cada vez mais mulheres estão empreendendo no campo do turismo com diferentes focos. É o caso da empresária e CEO do grupo Clara Resorts, Taiza Krueder, que foca seus negócios em hotéis de luxo, mas preservando a natureza e pensando mais na sustentabilidade.
Lazer para pessoas com deficiência visual
Simone diz ainda que suas primeiras experiências de lazer após perder a visão foram frustradas pelas dificuldades de encontrar estabelecimentos inclusivos. “Uns empreendem pelo amor, já eu fui pela dor. Eu ia em bares e tinha muita dificuldade para ser atendida, parecia que eu era invisível”, lembra. “E quando eu saía com a minha mãe, direcionavam a pergunta sobre o que eu queria para ela, como se eu também não pudesse ouvir”, complementa a empreendedora.
Agir por conta própria
Sendo assim, ela decidiu agir por conta própria e empreender neste cenário que ainda é despreparo. No início, Freire chamava grupos de amigos com a mesma deficiência para sair e começou ela mesma a orientar os garçons, com base nas falhas que percebia.
Com o tempo, ela passou também a procurar a gerência dos estabelecimentos e oferecia a proposta de formar os atendentes em troca de levar grupos maiores. Dos bares, os passeios ganharam outros ambientes, como praias, e rapidamente o interesse das pessoas foi se tornando maior. Simone notou que ali era uma oportunidade de negócios.
Vilacessível
Mas foi só em 2009, que a ideia da Vilacessível foi formalizada como empresa e gradualmente foi ampliando as possibilidades de passeios e destinos fora de São Paulo. Porém, com o aumento de clientes, outros entraves apareceram, como hotéis que se negavam a receber centenas de deficientes visuais por temporada ou profissionais que não aceitavam a negociação com uma agente de viagens que não enxerga. “Foram situações que me deixaram triste, pois parece que não somos público consumidor”, comenta Freire.
Estratégias
Por causa disso, ela passou a usar estratégias para conseguir fechar os contratos, como fazer visitas técnicas para traçar o roteiro das viagens previamente e montar formações prévias com os atendentes que darão suporte aos turistas nas viagens. Nos cursos, ela dá preferência aos profissionais locais para que o aprendizado possa ser utilizado de modo contínuo com outros visitantes.
“Não é difícil. É preciso fazer alguma adaptação, e para o deficiente visual a adaptação é verbal. A pessoa precisa transformar o que ela está enxergando em palavras, e o resto se sente com as mãos, com o olfato ou com o ouvido”, pondera Freire.
Serviços
Além dos passeios e dos cursos, a empreendedora pretende expandir seu trabalho com a gestão de uma pousada acessível para deficientes visuais, localizada em um ponto turístico de Pernambuco. Por fim, ela também pretende incluir nos serviços pacotes internacionais. Na equipe, ela conta com a colaboração do noivo, Madson Souza, que é guia turístico na empresa e que possui baixa visão.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/homem-bonito-em-pe-no-aeroporto_4975583