Músicas de Lou Reed estavam em uma fita cassete de 1975 armazenada nos arquivos do Andy Warhol Museum
Ao menos uma dúzia de canções inéditas do cantor e compositor norte-americano Lou Reed (1942-2013) foram encontradas em uma fita cassete de 1975, que integrava parte dos arquivos do Andy Warhol Museum, situado em Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Em declaração à imprensa, a responsável por encontrar esta raridade, a pesquisadora e professora de música da Faculdade de Artes e Ciências da Cornell University, Judith Peraino, contou:
“Parece que ele as gravou em seu apartamento com um microfone ao ar livre, apenas voz e violão.”
Canções inéditas de Lou Reed
O conteúdo musical foi baseado no livro de Warhol “The Philosophy of Andy Warhol (from A to B and Back Again)”. Lou Reed nomeou o lado dois da fita como “The Philosophy Songs (from A to B and Back)”. Este lado possui canções dubladas a partir de gravações da mesa de som de shows do artista em 1975, segundo afirmação do site da universidade.
No dia 30 de outubro foi publicado o artigo de Peraino, onde é revelada sua descoberta das canções inéditas de Reed. Intitulado “Serei sua Mixtape: Lou Reed, Andy Warhol e as Intimidades Queer das Cassetes”, o material saiu nas páginas do Journal of Musicology. Além disso, o conteúdo também conta com o um clipe de 30 segundos de uma das músicas, com direitos cedidos pelos responsáveis.
Reação
A pesquisadora conta que sua primeira reação ao encontrar a fita cassete de 1975 foi de “descrença e incerteza” e ainda afirmou:
“O som da voz de Reed em ‘The Philosophy Songs’ é muito diferente de suas apresentações ao vivo no lado um.”
Porém, quando um funcionário do museu disse que ela havia encontrado um álbum inédito de Lou Reed, “foi quando a emoção realmente chegou. Essa descoberta é rara e certamente é um dos destaques da minha carreira”.
Philosophy Songs
A fita “Philosophy Songs” é um dos cerca de 3.500 registros de áudio pertencentes ao museu, que integra a extensa coleção que Warhol reuniu dos sons de sua vida. Além disso, outra fonte importante para a pesquisa de Peraino foi Bruce Yaw, o baixista que fez turnê com Reed entre 1975 e 1976.
Yaw faleceu em setembro deste ano, aos 73 anos. Até sua morte, ele contribuiu com Peraino cedendo extensas entrevistas e também compartilhou seu vasto arquivo pessoal, que incluía fitas de mesa de som e de demos, as quais ela utilizou para contextualizar sua descoberta. Ela explica que o que torna seu achado algo raro é em relação ao aspecto raro da fita. Em sua opinião:
“Lou Reed intencionalmente criou um conjunto de músicas selecionadas e um conjunto de músicas compostas destinadas apenas a Warhol. Este é um prenúncio da cultura mixtape e do fazer fitas como presentes que floresceram nas décadas de 1980 e 1990.”
Biblioteca Pública de Artes Cênicas de Nova York
A professora também achou parte da gravação parcial das “Philosophy Songs” na Biblioteca Pública de Artes Cênicas de Nova York. A vasta pesquisa de Peraino sobre a música de Lou Reed e o arquivo de Warhol de um novo respiro por trás das músicas não lançadas.
Peraino descreve a fita como “as paixões e psicologias emaranhadas do relacionamento decadente [de Warhol e Reed]”. Nos anos 1960, a dupla trabalhou junto, o que resultou em eventos multimídia Exploding Plastic Inevitable, além do álbum “The Velvet Underground and Nico”.
Colaboração Lou Reed/Andy Warhol
Na década de 1970, Warhol quis a colaboração de cantor novamente, para criarem juntos um musical da Broadway, baseado numa música de Lou Reed, “Berlin”. Porém, a ideia não seguiu adiante e Reed criou a fita recém- descoberta com base no último livro de Warhol e em suas próprias canções e performances.
Para Peraino, a fita atua como um retrato duplo de áudio: de um lado é Lou Reed, simplesmente; e do outro é Andy Warhol.
“Reed trouxe uma sensibilidade experimental e literária às suas músicas, compondo retratos vívidos e às vezes brutais de personagens complexos em sons e palavras”.
E finaliza a entrevista, dizendo:
“Esta fita de 1975 revela um lado íntimo da criação de retratos musicais de Reed através de uma história que é dele, tocando em seu envolvimento permanente com Andy Warhol e explorando o potencial expressivo do meio da fita cassete.”
Fonte: Folha de S. Paulo
*Foto: Reprodução / Rose Hartman