Músicos do Pajeú criaram ainda mais repertório diante da pandemia, por meio dos herdeiros de grandes poetas do Sertão
Tradicionalmente reconhecida por ser um reduto de poetas, repentistas, cantadores, trovadores e violeiros, o Sertão de Pajeú têm despontado na área de cultura como um novo celeiro da música pernambucana. Prova disso, que também no estado, a música independente se reflete na voz e acordes do projeto Degusta SOMdagem, em meio à pandemia.
Músicos do Paejú
Por exemplo, o município de São José do Egito traz a poesia como parte do cotidiano dos moradores. E também diante da pandemia a região aflorou com produções que contam com a nova safra de músicos do Paejú, que possuem referências dos grandes poetas.
Sobre isso, Béa Laranjeiras, produtora cultural e pesquisadora, afirma:
“A poesia tá dentro da construção da cidade, você percebe poetas como é o caso de Antônio Marinho do Nascimento lá de trás que começara, a circular com poesia e cantoria e aí de lá pra cá surge muita gente e até hoje São José tem a poesia na matriz curricular de suas escolas.”
Antônio Marinho, além de carregar o mesmo nome do bisavô também herdou as tradições poéticas da família. Ao lado de seus irmãos, ele integra o grupo Em Canto e Poesia, que alia a tradição do Paejú ao universo pop. Eles estão em fase de preparação do segundo álbum.
“O disco tá conceituado, mas ainda não entramos em estúdio por causa das questões sanitárias da pandemia, mas nosso sonho é que o lançamento seja na Festa de Louro 2022.”
A Festa de Louro desde a década de 1950 celebra o repentista Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, avô de Antônio.
Outro neto de Louro é Antônio José de Lima Filho, o Tonfil, que faz parte do coletivo Reverbo e que também prepara novo disco:
“Estava em estúdio, mas tive que parar por causa da pandemia. Estamos retomando aos poucos, devagarzinho vai sair.”
Pouca visibilidade na região para os músicos do Paejú
Contudo, a região ainda gera pouca visibilidade aos músicos do Pajeú. É o caso de Edinardo Dalí, neto do poeta Manoel Filó e filho do cantador Anchieta Dalí. Ele prepara o lançamento do seu primeiro EP autoral “Brejeiros”, unindo sua herança poética à tradição dos violeiros nordestinos.
“Estou em um processo de gravação, finalizando o disco e tudo indica que fica pronto no começo de maio ou junho.”
Ele diz que apesar da quantidade de artistas desta nova safra ainda há uma dificuldade de romperem as barreiras para levar sua arte a mais pessoas:
“Eu vejo muita gente do sertão que tá fazendo uma arte belíssima, mas são poucos os que conseguem expandir seus horizontes geográficos e chegarem até a capital, por exemplo.”
Mercado para músicos do Paejú
Já Monique D’Angelo, vocalista das Severinas, acredita que há uma desvalorização no sentido mercadológico. Isso porque “mesmo diante da imensidão poética do Pajeú, ainda ficamos escondidos”.
O grupo que é tradicional do cancioneiro da Sertão está em fase de gravação de um EP em celebração aos 10 anos da banda, que deve sair em maio. Além de Monique, completam o trio pé de serra: Isabelly Moreira (triângulo, vocais e declamações) e Marília Correia (zabumba).
Por fim, Islan, filho da novíssima geração de músicos da região, se prepara para gravar o primeiro EP, previsto para outubro ou novembro. Ele define seu trabalho a aliança entre a força da palavra e o peso da poesia:
“A poesia é o que permeia a maior parte das produções artísticas do Pajeú em qualquer linguagem. Da música ao cinema, do teatro a fotografia, de alguma forma a poesia está nesses processos.”
*Foto: Divulgação